Rio de Janeiro Cinco Séculos de História e Transformações Urbanas. Capitulo 6.
No texto Rio de Janeiro: Da Urbe Colonial À Cidade Dividida, Jaime Larry Benchimol[1] traça um panorama da Cidade do Rio de Janeiro nos aspectos urbanísticos e de saúde dividindo sua narrativa em duas fases para melhor compreensão de sua análise.
Segundo Benchimol, o Rio de Janeiro
passou por grandes mudanças urbanísticas que influenciaram na sua estrutura
social e econômica. Grande parte dessas mudanças tinha por inspiração
reproduzir as transformações ocorridas em Paris por Haussmann[2].
Para Benchimol se tais mudanças não ocorressem seríamos hoje uma cidade
equiparada a Salvador e Paraty que em seu centro urbano abrigam as estruturas
das velhas cidades do Brasil Colonial. Para entendermos a origem dos fatos
devemos nos reportar a 1763 quando o Rio passa a ser capital dos vices-reis, ao
ciclo da mineração, a transferência da corte de Portugal para a sua colônia e o
Rio como palco para o processo de independência em 1822.
Aspectos
Urbanos da Cidade:
O Rio de Janeiro tem sua hegemonia caracterizada em
1763 quando se torna capital da metrópole tendo elevada a sua importância a
partir do ciclo da mineração. Era preciso garantir o controle do ouro que vinha
das Minas e o Rio se tornou o principal porto de escoamento dessa riqueza até a
metrópole gerando grande impacto na sua economia e demografia. Contudo, era
urgente organizar a forma de ocupação do espaço urbano. Até o final do século
XVIII, escravos transitavam em trajes indecentes, a cidade cheirava mal, as
ruas em péssimo estado de calçamento, estreitas e com grande trafego de
carroceiros, falta de saneamento, (retirada de dejetos pelos “tigres”), mão de
obra essencialmente escrava, grande concentração populacional no centro o que
em muito contribuía para o avanço de doenças epidêmicas. A cidade,
essencialmente escravista
possui grande parte das profissões realizadas por negros: “Os tigres”, os
carregadores de mercadorias e de pessoas que substituíam o trabalho de tração
animal, (cavalo, burro etc.). As melhores funções eram
destinadas aos brancos nas repartições públicas, no exército (afirma-se que são
tantos, que em pouco tempo o número de oficiais ultrapassará o número dos
soldados), o mesmo acontece nas Igrejas com o número de clérigos. Era normal um
branco ter pelo menos dois escravos.
O século XIX é marcado pela
vinda da família real para o Brasil, a cidade se torna a capital do Reino Unido
Portugal Brasil e Algarves, mudanças acontecem em sua demografia e em sua
arquitetura e sua população dobra.
A cidade cresce o embarque e
desembarque de escravos é transferido para a Gambôa, é criado o Bairro da
Cidade Nova, o canal da Praça da Bandeira é aterrado, é construída na quinta da
Boa Vista a residência oficial da Família Real.
O século XIX é também marcado
pelo fim do comércio internacional de escravos, o crescimento do cultivo de
café no vale do Paraíba e de investimos internacionais (Inglaterra). A segunda
Revolução Industrial traz à cidade do Rio de Janeiro a necessidade de modernização,
neste período são criadas as ferrovias e estas fazem com que a Cidade se
expanda. Cortando sertão adentro a modernidade levou ao crescimento demográfico
e futuramente ao crescimento industrial do que hoje chamamos subúrbio do Rio de
Janeiro e baixada Fluminense.
Começam a mudar as relações
de trabalhos com a contratação de mão de obra assalariada para as primeiras
indústrias e outros serviços. Os serviços públicos se expandem – iluminação a
gás, redes de água e esgotos, limpeza e transportes urbanos (bondes),
embarcações a vapor etc.
O crescimento da cidade se contradiz
com o que se preserva no antigo centro da cidade. Ruas estreitas sem ventilação
e insalubres, é preciso modernizar, alargar ruas, retirar os cortiços e
resolver os problemas de ordem sanitária e saúde para erradicar epidemias que
dizimavam a população carioca aglomerada no centro da cidade. A peste bubônica
e a febre amarela eram as doenças mais graves.
No ano de 1873 realizou-se
uma sessão na
academia imperial de medicina para falar sobre a questão da saúde pública do
Rio de Janeiro e que também definiu as reformas em que o Rio deveria passar tais
como: a retirada dos cortiços (20 mil pessoas seriam retiradas dos cortiços),
derrubada de morros e toda uma renovação urbanística que tornaria a cidade mais
ventilada e salubre. Porém, não foram executadas as reformas nesse período
acontecendo apenas três décadas mais tarde.
A passagem da Monarquia para
a República conservou os mesmos problemas para a cidade do Rio de Janeiro, mas
é neste período, na passagem do século XIX para o XX que grandes sanitaristas e
médicos executarão grandes mudanças no contexto político e urbanístico na
cidade do Rio de Janeiro.
Insalubridade:
Francisco Pereira Passos,
engenheiro, Oswaldo Cruz, médico sanitarista foram os personagens diretos na
reformulação da cidade do Rio de Janeiro no plano de combate as epidemias
através de vacinas quando a Cidade foi repartida em distritos sanitários, como
nas reformas urbanísticas.
Diante destes fatos acontecem
a “Revolta da Vacina” o “Bota Baixo” que retirou inúmeras pessoas dos cortiços
no centro do Rio que se alojaram e criaram a primeira favela da Cidade no Morro
da Providência. Iniciam-se as obras de
infra-estrutura no Rio de Janeiro; remodelação urbana, obras no porto,
alargamento de ruas, conexão entre o Centro e a Zona Portuária, embelezamento
da cidade, habitação popular, No projeto ruas foram alargadas, construída a Av. Central (atual Rio
Branco), destruindo o morro do Castelo não levando em consideração o patrimônio
histórico que o morro representava para a cidade do Rio de Janeiro por ser um
dos primeiros locais habitados. Em fim a cidade deveria refletir a Bélle Époque
Francesa.
A retirada dos moradores dos
cortiços do centro sem nenhum planejamento fez com que se iniciasse um processo
de favelização dividindo a cidade, processo este que Zuenir Ventura[3]
encarou como excludente e principal responsável pela violência que vemos a cada
dia tornar-se crescente. Hoje, em pleno século XXI sofremos o reflexo dessa
arbitrariedade que Zuenir Ventura em seu livro Cidade Partida, afirma:
“A política de
exclusão foi um desastre. Não apenas moral e humanitário, mas também do ponto
de vista da eficácia (...) ao empurrarem as ‘classes perigosas’ para os espaços
de baixo valor imobiliário, as ‘classes dirigentes’ não perceberam que as
estavam colocando numa situação estrategicamente privilegiada em caso de
confronto (...). Enquanto dos morros só se ouviam os sons do samba, parecia não
haver problema. Mas agora se ouvem os tiros”.[4]
A remoção das favelas na Zona Sul na
década de 60 (Praia do Pinto) e em outras áreas contribuiu para a segregação
social. Hoje, política de cultura, saúde, bens e serviços visam juntar a Cidade
dividida.
[1]
Historiador Brasiliero – Vide Currículo: http://ppghcs.coc.fiocruz.br/index.php/docentes/103-corpo-docente/163-jaime-larry-benchimol
[2] O barão Haussmann foi prefeito de Paris entre 1853-1870
[3]
Jornalista e escritor brasileiro
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