sexta-feira, 21 de junho de 2013


EXTRAÍDO DO BLOG GENIZAH - EM 21/06/2013



CURA GAY - Coisas que você deveria saber, mas a preguiça não deixa - José Linhares

Marco Feliciano chora
Texto de José Linhares Jr. - JORNAL PEQUENO - Blog doLinhares 
Vou logo ser claro no começo para evitar equívocos: eu tenho convicção de que gays, héteros e bissexuais não são doentes por conta de suas opções. Bem como acho Marcos Feliciano um idiota útil que vez ou outra serve de cortina de fumaça para o PT. Agora vamos ao debate…
Nos últimos dias deixaram uma coisa clara: o povo brasileiro quer mudar, quer deixar de ser apático e se tornar um povo contestador. No entanto, também fica claro que essa vontade carece de informação prévia sobre as coisas. Nas últimas horas a internet foi tomada por protestos contra a tal “cura gay”. Agem como se aquele pateta do Marcos Feliciano estivesse tramando uma campanha em que o Ministério da Saúde saia por aí prendendo e “curando” homossexuais. Vamos aprender um pouquinho…
1 – Não existe projeto de lei que IMPONHA tratamento de saúde a homossexuais no Congresso Nacional. Não existe sequer lei oficial que trate homossexualidade como doença.
2 – O termo “cura gay” tratado atualmente na Comissão de Direitos Humanos é oriundo de um documento do Conselho Federal de Psicologia de 1999. E é justamente sobre este documento que estão centradas as discussões na Câmara Federal.
3 – O projeto debatido na Câmara não propõe “cura gay”, mas sugere a supressão de dois trechos da tal resolução instituída em 1999 pelo Conselho Federal de Psicologia. Que são: “os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades” e “os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica”.
4 – O que o Conselho de Psicologia fez foi simplesmente calar as discussões sobre o assunto de maneira covarde. Conceituou de ‘cura gay’ de maneira IRRESTRITA o tratamento psicológico. Qualquer pessoa em sã consciência não apoiaria tratamento imposto. Mas, e se o hétero, bissexual ou gay QUISER ajuda psicológica? Quem é o CFP para dizer a héteros, bissexuais ou gays que eles não podem se indispor com suas opções e tentar buscar ajuda de um profissional?
5 – Quem criou a ‘cura gay’ não foi a Câmara de Deputados, foi o Conselho Federal de Psicologia! A contradição nesse discurso é óbvio. Por acaso um hétero que busque a ajuda de um psicólogo para se assumir homossexual e conviver melhor com sua condição estará se curando de alguma doença? Então porque o contrário é verdadeiro?
6 – A supressão destes dois termos não implica de maneira alguma em perseguição a homossexuais pelo Estado. O cerne da discussão é o seguinte: um gay, hétero ou bissexual insatisfeito com sua condição pode buscar a ajuda de um psicólogo, ou não? E, vejam bem, procurar a ajuda de um psicólogo por conta de insatisfação não significa que ao fim do tratamento teremos um hétero, gay ou bissexual. Pode ser que sim, pode ser que não. O que o Conselho Federal fez foi acabar com a primeira opção. Gays, héteros e bissexuais por vontade própria não podem procurar psicólogos com a intenção de buscar ajuda.
7 – Da mesma forma que é absurda qualquer tentativa de impor a qualquer pessoa que seja “curada” de sua sexualidade, é totalmente arbitrária e desrespeitosa a supressão do direito de uma pessoa, inconformada com sua orientação sexual, de procurar tratamento.
Sem mais…

quinta-feira, 13 de junho de 2013

 Rio de Janeiro Cinco Séculos de História e Transformações Urbanas. Capitulo 6.

No texto Rio de Janeiro: Da Urbe Colonial À Cidade Dividida, Jaime Larry Benchimol[1] traça um panorama da Cidade do Rio de Janeiro nos aspectos urbanísticos e de saúde dividindo sua narrativa em duas fases para melhor compreensão de sua análise.

Segundo Benchimol, o Rio de Janeiro passou por grandes mudanças urbanísticas que influenciaram na sua estrutura social e econômica. Grande parte dessas mudanças tinha por inspiração reproduzir as transformações ocorridas em Paris por Haussmann[2]. Para Benchimol se tais mudanças não ocorressem seríamos hoje uma cidade equiparada a Salvador e Paraty que em seu centro urbano abrigam as estruturas das velhas cidades do Brasil Colonial. Para entendermos a origem dos fatos devemos nos reportar a 1763 quando o Rio passa a ser capital dos vices-reis, ao ciclo da mineração, a transferência da corte de Portugal para a sua colônia e o Rio como palco para o processo de independência em 1822.

 Aspectos Urbanos da Cidade:
O Rio de Janeiro tem sua hegemonia caracterizada em 1763 quando se torna capital da metrópole tendo elevada a sua importância a partir do ciclo da mineração. Era preciso garantir o controle do ouro que vinha das Minas e o Rio se tornou o principal porto de escoamento dessa riqueza até a metrópole gerando grande impacto na sua economia e demografia. Contudo, era urgente organizar a forma de ocupação do espaço urbano. Até o final do século XVIII, escravos transitavam em trajes indecentes, a cidade cheirava mal, as ruas em péssimo estado de calçamento, estreitas e com grande trafego de carroceiros, falta de saneamento, (retirada de dejetos pelos “tigres”), mão de obra essencialmente escrava, grande concentração populacional no centro o que em muito contribuía para o avanço de doenças epidêmicas. A cidade, essencialmente escravista possui grande parte das profissões realizadas por negros: “Os tigres”, os carregadores de mercadorias e de pessoas que substituíam o trabalho de tração animal, (cavalo, burro  etc.). As melhores funções eram destinadas aos brancos nas repartições públicas, no exército (afirma-se que são tantos, que em pouco tempo o número de oficiais ultrapassará o número dos soldados), o mesmo acontece nas Igrejas com o número de clérigos. Era normal um branco ter pelo menos dois escravos.
O século XIX é marcado pela vinda da família real para o Brasil, a cidade se torna a capital do Reino Unido Portugal Brasil e Algarves, mudanças acontecem em sua demografia e em sua arquitetura e sua população dobra.
A cidade cresce o embarque e desembarque de escravos é transferido para a Gambôa, é criado o Bairro da Cidade Nova, o canal da Praça da Bandeira é aterrado, é construída na quinta da Boa Vista a residência oficial da Família Real.
O século XIX é também marcado pelo fim do comércio internacional de escravos, o crescimento do cultivo de café no vale do Paraíba e de investimos internacionais (Inglaterra). A segunda Revolução Industrial traz à cidade do Rio de Janeiro a necessidade de modernização, neste período são criadas as ferrovias e estas fazem com que a Cidade se expanda. Cortando sertão adentro a modernidade levou ao crescimento demográfico e futuramente ao crescimento industrial do que hoje chamamos subúrbio do Rio de Janeiro e baixada Fluminense.
Começam a mudar as relações de trabalhos com a contratação de mão de obra assalariada para as primeiras indústrias e outros serviços. Os serviços públicos se expandem – iluminação a gás, redes de água e esgotos, limpeza e transportes urbanos (bondes), embarcações a vapor etc.
O crescimento da cidade se contradiz com o que se preserva no antigo centro da cidade. Ruas estreitas sem ventilação e insalubres, é preciso modernizar, alargar ruas, retirar os cortiços e resolver os problemas de ordem sanitária e saúde para erradicar epidemias que dizimavam a população carioca aglomerada no centro da cidade. A peste bubônica e a febre amarela eram as doenças mais graves.
No ano de 1873 realizou-se uma sessão na academia imperial de medicina para falar sobre a questão da saúde pública do Rio de Janeiro e que também definiu as reformas em que o Rio deveria passar tais como: a retirada dos cortiços (20 mil pessoas seriam retiradas dos cortiços), derrubada de morros e toda uma renovação urbanística que tornaria a cidade mais ventilada e salubre. Porém, não foram executadas as reformas nesse período acontecendo apenas três décadas mais tarde.
A passagem da Monarquia para a República conservou os mesmos problemas para a cidade do Rio de Janeiro, mas é neste período, na passagem do século XIX para o XX que grandes sanitaristas e médicos executarão grandes mudanças no contexto político e urbanístico na cidade do Rio de Janeiro.

Insalubridade:
Francisco Pereira Passos, engenheiro, Oswaldo Cruz, médico sanitarista foram os personagens diretos na reformulação da cidade do Rio de Janeiro no plano de combate as epidemias através de vacinas quando a Cidade foi repartida em distritos sanitários, como nas reformas urbanísticas.
Diante destes fatos acontecem a “Revolta da Vacina” o “Bota Baixo” que retirou inúmeras pessoas dos cortiços no centro do Rio que se alojaram e criaram a primeira favela da Cidade no Morro da Providência. Iniciam-se as obras de infra-estrutura no Rio de Janeiro; remodelação urbana, obras no porto, alargamento de ruas, conexão entre o Centro e a Zona Portuária, embelezamento da cidade, habitação popular, No projeto ruas foram alargadas, construída a Av. Central (atual Rio Branco), destruindo o morro do Castelo não levando em consideração o patrimônio histórico que o morro representava para a cidade do Rio de Janeiro por ser um dos primeiros locais habitados. Em fim a cidade deveria refletir a Bélle Époque Francesa.
A retirada dos moradores dos cortiços do centro sem nenhum planejamento fez com que se iniciasse um processo de favelização dividindo a cidade, processo este que Zuenir Ventura[3] encarou como excludente e principal responsável pela violência que vemos a cada dia tornar-se crescente. Hoje, em pleno século XXI sofremos o reflexo dessa arbitrariedade que Zuenir Ventura em seu livro Cidade Partida, afirma:
“A política de exclusão foi um desastre. Não apenas moral e humanitário, mas também do ponto de vista da eficácia (...) ao empurrarem as ‘classes perigosas’ para os espaços de baixo valor imobiliário, as ‘classes dirigentes’ não perceberam que as estavam colocando numa situação estrategicamente privilegiada em caso de confronto (...). Enquanto dos morros só se ouviam os sons do samba, parecia não haver problema. Mas agora se ouvem os tiros”.[4]
           
A remoção das favelas na Zona Sul na década de 60 (Praia do Pinto) e em outras áreas contribuiu para a segregação social. Hoje, política de cultura, saúde, bens e serviços visam juntar a Cidade dividida.

Rogério Silva.



[2] O barão Haussmann foi prefeito de Paris entre 1853-1870
[3] Jornalista e escritor brasileiro
[4] VENTURA, Z. A Cidade Partida, São Paulo, Companhia das Letras, 1996.